Teor alcoólico

Para aqueles que bebem vinho há mais de 20 anos já devem ter percebido uma mudança no paladar desse fermentado ultimamente. Isso se deve ao incremento do teor alcoólico, moda criada principalmente pelos produtores da Califórnia, sob as bençãos do polêmico crítico americano Robert Parker. É bom salientar que os californianos que participaram do famoso "Julgamento de Paris" (1976) e ganharam dos franceses em uma degustação às cegas, tinham e têm ainda um teor de álcool baixo.
Em um passado mais longínquo, quando o homem começou a fermentar o mosto da uva, a graduação alcoólica provavelmente não ultrapassava os 11°. Naquela época, as leveduras naturais (ou "selvagens") presentes no ambiente não conseguiam fermentar o açúcar em uma graduação alcoólica superior à esses 11°, no máximo 12°. Essa tradição de vinhos finos e elegantes com essa graduação ainda perdura no Velho Mundo, principalmente na França, Portugal e Itália. Para se ter uma ideia, um dos mais famosos do mundo o Petrus, feito só com merlot tem em média 13%.
Com o desenvolvimento das técnicas de vitivinicultura, em especial a biotecnologia, onde leveduras são modificadas geneticamente ou criadas em laboratório, conseguiu-se que o teor alcoólico passasse a bater a casa dos 14/15°, alguns já chegando quase aos 17°, um verdadeiro "fortificado". Lógico que em regiões mais ensolaradas e quentes como o oeste americano, o teor de açúcar tende a aumentar nas uvas, proporcionando vinhos mais potentes. São as chamadas "Bombas de Álcool e Frutas". Como esses vinhos são mais "fáceis" de beber pela população em geral, essa tendência ganhou corpo no Novo Mundo. Chilenos e argentinos começaram a produzir mais e mais vinhos com mais e mais álcool, agradando críticos das revistas especializadas com pontuações elevadas. Formou-se o ciclo vicioso: "Vinho com mais álcool-pontuação alta-maior venda-vinhos com mais álcool..."
Além disso, começaram a aparecer vinhos com "toques" de madeira, mesmo que esses não ficassem muito tempo em barris. A técnica era adicionar pedaços de carvalho nos tanques para dar o tom no aroma.
Já há um movimento contra essa "fortificação" ou "artificialização". Muitas revistas especializadas já debatem o tema, mas ainda é uma minoria os que defendem um freio nesse avanço na produção do vinho fácil. De qualquer forma, o espaço e mercado para os vinhos mais elegantes (em torno dos 12/13°) sempre estarão garantidos.
Vamos ver!

Bons Brindes e maneire no álcool!

Um chileno e um argentino no jantar

Em recente jantar em minha casa, tive a grata surpresa de experimentar dois ótimos exemplares da vitivinicultura chilena e argentina.
O casal amigo Cury e Tânia levou uma garrafa da Viña Von Siebenthal Carmenère 2010 Gran Reserva. Essa Vinícola foi fundada em 1998 por um advogado suíço no Vale do Aconcagua, região que fica a 90 km de Santiago. Seus vinhos são considerados hoje um dos melhores do Chile. Esse Gran Reserva feito com 85% de carmenère e 15% de cabernet sauvignon é simplesmente fantástico, recebendo 90 pontos do famoso e polêmico crítico americano Robert Parker. Ele envelhece 12 meses em barricas de carvalho, sendo que 30% de primeira utilização.

Possui cor vermelha brilhante. Os Amigos presentes perceberam aromas de frutas vermelhas, caramelo e madeira. Na boca sentimos um corpo médio e com notas levemente doces. Consideramos também uma excelente acidez final. O único problema dele é o preço, pois dificilmente vocês encontrarão por menos de R$100,00 aqui no Brasil. Obrigado Cury e Tânia por essa oportunidade!

O segundo exemplar foi levado pelo casal Márcio e Jussara. Para aqueles que acham que a Terra do Maradona só produz malbec, estão muito enganados. Existem excelentes vinhos produzidos a partir da cabernet sauvignon, e esse Trapiche Medalla 2006 é um grande exemplo disso. Em todas as listas dos melhores argentinos, ele aparece sempre em destaque. Eu diria sem medo de errar, que esse  Medalla 2006 é um dos melhores cabernet sauvignon do Novo Mundo.

Negligenciando a necessidade de decantação, que seria o mais indicado, partimos para a abertura imediata da garrafa. Ao abri-la, visualizamos um vermelho-granada com reflexos alaranjados e até de tijolo, indicando que tinha sofrido algum envelhecimento, ou pior, também de "decadência". Como o vinho era de 2006, havia uma preocupação quanto ao armazenamento, pois o Márcio o tinha recebido recentemente de presente.  
Para alívio de todos e a despeito de não termos decantado antes, ele foi a estrela da noite.
Essas foram as notas identificadas pelos presentes:
Olfato - Frutas vermelhas maduras, compotas, baunilha e alguma pimenta e tabaco.
Boca - Taninos intensos e potentes, deixando um gosto residual bem longo e agradável.
Seu preço no mercado brasileiro gira em torno dos R$90,00.

Bons Brindes e Salve o Chile e a Argentina!